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Passados 40 anos do início de carreira de Miguel D’Alte (1954-2007) a Fundação Bienal de Arte de Cerveira e a Astronauta- Associação Cultural, lembraram o artista e promoveram uma releitura da sua obra. Enquadrada no projeto de lançamento e promoção do Catálogo Raisonné do pintor, a exposição “Retrospetiva(s): Capítulo II”.

“Pintor maldito”, como o apelidou o pintor Henrique Silva, a história de Miguel d’Alte poderia assemelhar-se à de um Van Gogh. Em vida foi-lhe sempre reconhecido talento, foram-lhe feitas várias exposições individuais, participou num sem fim de coletivas, ganhou prémios (sobretudo na década de 1980) e sobre ele escreveram importantes críticos como Bernardo Pinto de Almeida, Eduardo Paz Barroso, Fátima Lambert, Eurico Gonçalves, Rui Mário Gonçalves, entre outros. Miguel d’Alte viveu entre o Porto, Lisboa e Vila Nova de Cerveira.

O artista viveu para a sua arte, sempre adverso às tentações da mercantilização. O atelier foi sempre a casa e a casa o atelier pois “a pintura e a vida não são duas coisas distintas”, escreveu. Estas casas-ateliers foram sempre minúsculos e infinitos, dada a vontade de expressar o sentir e questionar o mundo através da tela. Expôs desde 1975, e até aos inícios da década de 1990, a sua pintura é obscura, dramática, fantástica e surreal. Na década de 1990, a paleta torna-se clara e límpida, com amplos brancos e subtis gradações de cinzentos e azuis. Nesta fase, cobria a tela com múltiplas camadas de tinta que depois raspava tentando descobrir/cobrir riscos, cores, formas, atmosferas. “O referente situa-se cada vez mais no vazio”, escreveu em outubro de 1996. As paredes da casa de Vila Nova de Cerveira foram as últimas a ver Miguel d’Alte pintar, mas a obra faz com que a sua voz seja ouvida na eternidade.

“O Miguel era um pintor para pintores gostarem”. Escreveu Mário Ferreira da Silva (Mazza), também pintor. António Pedro escreveu que “A arte só o pode ser como exercício de liberdade”. Da arte de Miguel d’Alte gostam e gostarão todos os que tiverem a coragem de serem livres e o objetivo é que, com o desenvolvimento deste projeto, sejam mais os que conhecem e gostam da obra de Miguel d’Alte. Pintou o seu universo interior, os seus mestres e os seus rios; pintou as suas inquietações; criou a sua identidade, plástica e estilística. Experimentou técnicas e suportes, usou todos e criou os seus. Foi autêntico e foi real. Foi sonho e metamorfose. Foi poesia e foi música. É a (sua) pintura.

Neste catálogo raisonné, além de uma compilação de textos (antigos e novos) sobre o pintor, e do inventário da obra que atinge os cerca de 1.200 trabalhos, pertencentes a cerca de 170 coleções públicas e privadas, é também possível encontrar uma biografia detalhada do pintor, que nos revela o seu percurso, currículo e qualidade. Trata-se de uma edição de cerca de 400 páginas, desenvolvida ao longo de cerca de três anos por Helena AM Pereia.

O projeto tem como objetivo lançar um novo olhar sobre a obra de um homem que ficou para a nossa história recente como “pintor maldito”, seguindo os exemplos (à época) de Caravaggio (1571-1610), Amadeo Modigliani (1884-1920), Ismael Nery (1900-1934), Bruno Amadio (1911-1981), Van Gogh (1853-1890), Edvard Munch (1863-1944) ou, no caso português, Santa-Rita Pintor (1889-1918).

No próximo sábado, pelas 18h00, organiza-se também um concerto de homenagem ao pintor Miguel d’Alte, sob o tema “Zeca e outros amigos”, com presença de perto de duas dezenas de músicos, alguns deles amigos do pintor.

Miguel d’Alte nasceu em Braga a 2 de fevereiro de 1954. Ainda bebé foi morar com os pais para Moçambique de onde só regressa no final do ano de 1973. No Liceu da Beira é aluno de José Afonso por quem nutrirá, para sempre, profunda admiração. Participa na sua primeira exposição coletiva, em Portugal, em 1975 e, em 1976 ingressa no Curso Geral de Pintura da Escola Superior de Belas Artes do Porto (atual FBAUP). É este o ano, o de 1976, que o pintor identifica como aquele em que iniciou o seu percurso “acidental e acidentado”, numa autografia encontrada entre os seus apontamentos. Contudo, o pintor manteve sempre uma espécie de “alergia” ao mercado da arte e às tentativas de manipulação e mercantilização que considerava serem feitas do seu trabalho. Morreu colhido por um comboio em Vila Nova de Gaia, entre os apeadeiros de Miramar e Francelos, na tarde de 24 de dezembro de 2007, véspera de Natal.

 

Veja o vídeo promocional da primeira exposição do projeto:

https://www.youtube.com/watch?v=yBYUxIiWZG8

 

Local: Fórum Cultural de Cerveira | Avenida das Comunidades Portuguesas S/N 4920-275, Vila Nova de Cerveira

Horário: terça a sexta-feira: 15h00 às 19h00; sábados e feriados: 10h00 às 13h00; 15h00 às 19h00.