Cabral Pinto

Coordenação Artística

“A Arte desemboca em regiões que não dominam nem o tempo nem o espaço”

Marcel Duchamp

No ano em que se comemora o quadragésimo aniversário da bienal mais antiga da península ibérica, o desafio da XX Bienal Internacional de Arte de Cerveira é o de provocar o confronto entre as artes visuais e as artes de produção física, como análise da sua validade percursora da nossa época.

A atividade artística sofreu sempre grandes influências tecnológicas ao longo da história da humanidade e a arte é tão confrontada pelos avanços tecnológicos quanto qualquer outra área do conhecimento humano. À medida que novas formas de trabalho surgem, a atividade artística sofre uma evolução considerável e com ela a previsibilidade futura do conceito de qualidade é posta em causa face aos mercados e às coleções de arte. Com efeito, a arte e os seus modelos tradicionais sofreram alterações com o surgimento da informática e dos fenómenos decorrentes da tecnologia digital, revolucionando a forma de fazer e pensar a arte, ampliando consideravelmente a caixa de ferramentas do artista das matérias-primas tradicionais para o novo e progressivo domínio das tecnologias eletrónicas.

O pincel e o acrílico são substituídos pela luz, som e pixels. Em vez de papel, os artistas criam imagens digitais ou gráficos gerados por computador. À tela física, de duas dimensões, os artistas contrapõem projetos gráficos tridimensionais para projeção na tela ou através de projeção multimídia, entre outras.

Com a revolução digital, consolidou-se uma arte elaborada em computador e residente no ciberespaço que apesar de poder ou não ser reconhecida como um movimento distinto por si só, vamos continuar a vê-la em constante mudança, solidificando-se como uma alternativa credível aos meios tradicionais de criação de arte.

Importa pois, delimitar e perceber como se inclui a produção digital no multifacetado cenário da arte contemporânea, tendo em conta que, a informática proporciona recursos expressivos alargados e que dele se servem artistas inovadores ainda alvos de ceticismo.

Cabral Pinto
Coordenador Artístico da XX Bienal Internacional de Arte de Cerveira