Xela Marx (ES), Dennise Vaccarello (ES), Juan Alonso (CO) e Eleonora Gomes (BR) são os quatro artistas da quarta fase do programa de Residências Artísticas 2016 da Fundação Bienal de Arte de Cerveira. A apresentação dos projetos decorrer no próximo sábado, 29 outubro, às 21h00, na Casa do Artista Jaime Isidoro.
Xela Marx (ES)
L.M. Uma reflexão sobre a memória e a fantasia | Performance
Trata-se de uma performance que se realiza em duas etapas, através da íntima colaboração com o público. Tendo como base as investigações interdisciplinares da artista e a preocupação com a distância e diferenciação habitual entre espectador (passivo) e artista (ativo), o objetivo desta performance é que o público seja co-criador do trabalho realizado, rompendo com o anquilosamento dessas posturas.
O texto escolhido para esta ocasião são as intervenções de Lady Macbeth e fragmentos da peça shakespeariana Macbeth. Através deles e da aportação do público, se investiga o equilíbrio entre fantasia e memória, e a relação destas com a vivência dos tempos verbais. Sendo essa uma das principais características definitórias de cada individuo, isto é, como se relaciona com seu passado, presente, e futuro, abordaremos como o equilíbrio entre o imaginário e a ação real tem a sua repercussão na própria definição ou inclusive na dissolução do sujeito. Particularmente se procurará uma via à pergunta sobre o que acontece quando um individuo substitui, paulatinamente, a vivência por uma fantasia que não chega nunca a se concretizar.
A base arquitetónica que se tece no trabalho consta das conexões cerebrais, aqueles caminhos já conhecidos, e os novos estabelecidos pela capacidade plástica neuronal. O trabalho joga com uma situação na qual o sujeito se encontra numa situação de tal híper-abundância e anquilosamento simultâneo, que perde qualquer ponto fixo ao que se agarrar. Um tema de absoluta contemporaneidade, dada a nova relação que a nossa sociedade tem com a vivência do presente.
Dennise Vaccarello (ES)
Pintura
Definimo-nos pelo que compramos, o que fazemos, o que compartilhamos no Facebook. Com este projeto quero aprofundar desde a pintura no valor que lhe damos às imagens no mundo atual. Que vendemos a nossos seguidores. Neste caso, aproveitando a oportunidade da residência, interessa-me reconhecer o território através de retratos e paisagens nos que se representa a experiência do mesmo. Para responder à pergunta: “Pode-se avaliar a nossa relação com as redes sociais mediante a pintura?”
Durante a minha estadia realizarei nove quadros de pequeno formato, a modo de trípticos, plasmando fotografias de Instagram nas que saia a Vila ou a gente que nela habita. Carregarei os quadros de pintura, mediante seringas, para escapar da representação típica de uma fotografia e acercar-me mais ao ónus do pixel.
Juan Alonso (CO)
“A Ponte” | Desenho, fotografia e vídeo
O Projeto “A Ponte” é uma proposta de artes plásticas desenvolvida em torno da fronteira como um limite de encruzilhada, intercâmbio, diálogo, jogo, o que coloca a sua posição na ponte que atravessa o rio Minho e separa a República Portuguesa do Reino de Espanha.
Essa ideia de fronteira emerge do questionamento histórico das guerras que tiveram lugar neste local, seja contra os árabes, espanhóis ou contra o próprio Napoleão. Esta condição de batalha e defesa assemelha-se muito às guerras de fronteira ao longo da história da Colômbia com alguns dos seus países vizinhos. Além disso, dentro da mesma é adequado pensar na fragmentação das regiões maiores em pequenas repúblicas dadas questões políticas e da população: a fragmentação da Hispania nos tempos de Agosto nos países de Portugal e Espanha, de alguma forma paralela à “grande Colômbia” de Simon Bolivar que foi fragmentada em países como a Colômbia, Venezuela, Equador, Peru e Panamá, criando desta forma novas fronteiras como linhas imaginárias que definem um lugar de outro, separados no mesmo território.
Este projecto é considerado uma transição constante dentro dos marcos de fronteira através do deslocamento constante entre os dois países na fronteira de Tui, Espanha, com Valença do Minho, Portugal. Este processo é visto como uma caminhada arqueológica de elementos que marcam os lugares. Elementos que podem ser físicos, como a ponte ou o rio, mas que também pode ser metafóricos como a terra ou o céu que também fazem parte da fronteira.
Eleonora Gomes (BR)
“Colónia” | Pintura
Esse projeto visa alargar meus territórios e limites artísticos. Passar das capitanias hereditárias ao mundo europeu e tomar de posse bens naturais, conhecimento, dizeres e experiências para a realização de um trabalho em pintura. Objetivo da residência é realizar os trabalhos em suportes de madeira coletados na região. Venho trabalhando com pedaços de madeira que me rodearam em momentos da minha vida. Todos coletados durante o passar do tempo e servindo de suporte de um pensamento artístico em pintura. Este material estrangeiro trará uma carga simbólica ao trabalho, como uma troca. Eu como artista insiro-me no objeto e ele impõe-se no meu trabalho, com matéria, como guia do trabalho. O intercâmbio estará explicito no trabalho. Minhas pinturas falam sobre um amoldamento entre tintas, gestos, pinceladas, manchas, áreas, cores e formas que marcaram o suporte durante a minha ação de pintar. Deixo as marca do suporte, os veios e nós da madeira definirem formas.