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Projeto “40 anos, 40 artistas” | TALES FREY a par com o mundo

Tales Frey (n.1982) é natural de São Paulo e vive e trabalha entre o Brasil e Portugal. A sua produção artística situa-se no intervalo e no cruzamento entre o plástico e o cénico, ou seja, no universo da ação performativa e do seu vestígio. Em 2017, no âmbito da XIX Bienal Internacional de Arte de Cerveira, a obra deste jovem artista foi merecedora de um dos prémios aquisição. “Estar a Par” (2017), um objeto com 63x12x11,5cm, trata-se, objetivamente, de um par de sapatos com uma entrada para quatro pés, propondo uma convivência de proximidade e consonância entre dois sujeitos. Na performance original, o autor desafiou o marido, Paulo da Mata, a percorrer, durante duas horas e em silêncio, o espaço definido para a ação da performance. O desafio da partilha do espaço, interpela-nos pela pertinência da discussão, dos nossos dias, sobre o que é público e o que é íntimo, sobre as escolhas que fazemos na forma como nos revelamos aos outros e em que escalas fazemos essa mesma revelação. O ato performativo, sendo essa uma das soluções para a preservação e musealização da performance e da efemeridade de outras produções artísticas contemporâneas, é registado em vídeo e o que se expõe e se transporta é esse mesmo documento e o objeto que, concetualmente, lança a narrativa do movimento no espaço-tempo definidos pelo artista.

Até 26 de maio, no Fórum Cultural de Cerveira, poderá encontrar ambos (vídeo e objeto) integrados na exposição “É tudo uma questão de performatividade”, comissariada por Elisa Noronha, e é por isso que, esta semana, os destacamos, bem como ao seu autor, no alinhamento de artistas do projeto “40 anos, 40 artistas” que percorre marcas da coleção da Fundação Bienal de Arte de Cerveira, produzindo conteúdos que permitam conhecê-la, valorizá-la e, sobretudo, facilitar leituras e entendimentos por parte dos públicos.

Artista transdisciplinar, Tales Frey é apenas um dos exemplos da renovação e atualização que a coleção tem conseguido fazer ao longo dos últimos 40 anos, vinculando-se ao novo e à vanguarda e, sobretudo, mantendo o espírito da Bienal Internacional de Arte de Cerveira como espaço de revelação e de oportunidade para autores ainda em fase de afirmação dos seus percursos. No caso de Tales Frey, cabe referir que o artista soma à qualidade e ao alcance das suas obras, um percurso académico notável, integrando atualmente o programa de pós-doutoramento do Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho, onde foi convidado para integrar um grupo de estudos em performance. Contudo, a sua formação começou ainda do outro lado do Atlântico, graduando-se em Artes Cénicas, com habilitação para Direção Teatral, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Já em Portugal, para onde viajou, como muitos dos seus conterrâneos para continuar estudos, obteve grau de Mestre em Estudos Artísticos, com especialização em Teoria e Crítica da Arte, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e uma especialização em Práticas Artísticas Contemporâneas pela mesma instituição. Já em 2016, concluiu o doutoramento em Estudos Teatrais e Performativos pela Universidade de Coimbra. A derivação para um trabalho mais plástico, considerando esta formação de base mais no domínio das artes cénicas, transporta para a sua produção intensidade, narrativa e uma capacidade de promover reflexões sobre o contemporâneo que se ampliam no diálogo dos públicos com os seus vestígios.

As suas ações performativas e os seus “vestígios” têm percorrido instituições e exposições em vários países e integram coleções relevantes como o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, MAC-USP, no Brasil; o Instituto Municipal de Arte y Cultura de Puebla no México; a Pinacoteca João Nasser (Catanduva, SP, Brasil); e a Fundação Bienal de Arte de Cerveira, como este “Estar a Par”, esta semana em destaque.

 

« Texto de Helena Mendes Pereira