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Projeto “40 anos, 40 artistas” | Pedro Casqueiro e o bis da premiação

Não são muitos os artistas duplamente premiados ao longo das dezanove edições da Bienal Internacional de Arte de Cerveira. Exceção feita para Pedro Casqueiro (n.1959) que, em 1980,  venceu com a técnica mista sobre papel de 95x95cm o Prémio Revelação Desenho na II Bienal Internacional de Arte de Cerveira, realizada de 2 a 31 de agosto e, em 1986, com a técnica mista sobre tela de 186x176cm o Prémio Aquisição Pintura na V Bienal de Cerveira, realizada de 26 de julho a 7 de setembro. Pedro Casqueiro é outro dos nomes, a par dos de Pedro Cabrita Reis (n.1956) e Pedro Calapez (n.1953) referidos nas duas últimas semanas do projeto “40 anos, 40 artistas”, que protagoniza na década de 1980 o denominado regresso à pintura, evocando no seu trabalho uma atitude plástica, no terreno da prática da pintura, mais importante do que uma eventual atitude teórica ou postura ideológica.

Formado na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (atual FBAUL), Pedro Casqueiro, ainda que mantendo sempre uma atitude discreta e, nas palavras de Bernardo Pinto de Almeida, “que evitou sempre, conscientemente, o fácil reconhecimento (…) e que se manteve contida numa singular margem, afastada dos circuitos consagrativos”[1], começou a expor muito cedo. Nos primeiros trabalhos, à semelhança do de 1980 que integra a coleção da Fundação Bienal de Arte de Cerveira, o artista recorre a diversas soluções gráficas e compositivas, que se configuram numa verdadeira explosão visual, espécie de malha feita de desenho em que a acumulação provoca um contraste com as cores e a subtileza dos pequenos espaços que surgem, ora no papel, ora na tela. Com o tempo, a escala da malha, do calculado efeito da relação que o bidimensional estabelece com o espetador, alarga-se e as superfícies são trabalhadas com preciosismos, surgindo um alfabeto de sugestão figurativa, mas que se mantém enquanto mancha e experiência pictórica e plástica.

Trabalho de dicotomias, os recursos matéricos e cromáticos moderaram-se ao longo dos anos, conduzindo a obra para superfícies de grande limpidez, onde a grelha de torna mais clara, mantendo o seu “grau de radical subjetivismo”, nas palavras de João Pinharanda[2].

Temos dificuldade em classificar a pintura de Pedro Casqueiro como abstrata ou figurativa. Poderíamos classificá-la de arquitetónica, pela sugestão de articulação entre planos e pelo desenho de espaços, numa evolução do “orgânico” (kandinskiana) para o “geométrico” (malevitchiana/mondrianesa), segundo a definição de Donald Kuspit em The New Subjectivism: Art in the 1980’s de 1988. “A malha estrutura a visão, mas é a cor que define a forma”, voltando a Pinharanda[3], por isso, classificá-la-emos apenas como pintura, uma pintura que na década de 1990 se aproxima do jogo compositivo da BD e dos videojogos, mantendo a subtileza dos primeiros papéis da década de 1980 que convenceram o júri da II Bienal de Cerveira.

[1] ALMEIDA – Bernardo Pinto de – Arte Portuguesa no Século XX. Uma História Crítica. Matosinhos: Coral Books, 2016. Página 400.

[2] https://www.flickr.com/photos/pedrosimoes7/26258427260 em 26 de julho de 2018.

[3] https://www.flickr.com/photos/pedrosimoes7/26258427260 em 26 de julho de 2018.

 

« Texto de Helena Mendes Pereira