Xurxo Oro Claro (n.1955) é natural de A Golada, Pontevedra. Autodidata, tem mantido um percurso expositivo constante, iniciado com a sua primeira exposição coletiva em 1981 e a primeira individual em 1982. As suas obras integram coleções em diversos museus, fundamentalmente na Galiza e um pouco por toda a Espanha, mas também em Portugal e até na Guiné Equatorial. A sua produção artística, comprometida cívica e politicamente, privilegia o ferro, tendo também presença em espaço público com algumas obras em pedra, nomeadamente em granito.
No espaço público de Vila Nova de Cerveira, nas proximidades do edifício que agora alberga o Turismo, encontramos uma obra sua realizada no âmbito do Simpósio de Escultura em Granito, de 1996, que estabelece a memória do território, numa similitude formal com a paisagem e na qual se inscrevem, simbolicamente, as pegadas de todos os participantes naquela iniciativa organizada há 22 anos atrás pela Associação Projeto – Núcleo de Desenvolvimento Cultural. Desse mesmo ano, a coleção da Fundação Bienal de Arte de Cerveira integra uma obra do autor galego (sem título, 132x31x16cm) onde o autor encerra uma pedra granítica na qual cria uma estrutura de fendas, num jogo rítmico de cheio e vazio, encerrada por um material ferroso, simbolizando a força e o poder da indústria sobre a natureza. A obra em questão persegue as inquietações que acompanham toda a produção plástica e visual de Xurxo Oro Claro e, neste caso, procura chamar a atenção para a exploração desmedida que era feita, à época, das pedreiras da região de Pontevedra e da Galiza, de uma forma mais geral. Ainda que de dimensão média, o peso do material, numa peça pensada para o chão e que nos convida a pegar nela como se de uma urna se tratasse, interfere corporeamente com o espectador, obrigado a olhar o chão e a sentir desconforto se tentado a levantar objeto, denso, compacto e pesado. Minimal e conceptualmente poderosa, esta obra de Xurxo Oro Claro acentua, por outro lado, o caráter multifacetado da sua obra, numa tendência para a figuração mas com incursões em linguagens mais minimais, eventualmente abstratizantes e de desconstrução sui generis da realidade.
Mais recentemente, a obra de Xurxo Oro Claro avançou para uma dimensão mais instalativa e de ocupação do espaço, como é exemplo o monumental Bosque 3050 que ocupou a Igreja de Santo Domingo de Bonaval (Santiago de Compostela) e também o Mosteiro de Oseira (Cea-Ourense), respetivamente em 2010 e 2011, tratando-se de um conjunto de estruturas metálicas que nos remetem para a nudez das árvores, enquadradas por uma área de gravilha, em mais uma criação em que ferro e pedra se articulam e se relacionam com o envolvente, neste caso, com dois edifícios religiosos medievais. Maldita Europa, conjunto de objetos expostos na Fundación Eugenio Granell (A Coruña), em 2008, é, talvez, uma das mais violentas propostas do autor. Entre os corpos amputados, torturados e a sugestão de objetos indutores de violência, trata-se de uma visceral formação de sentidos a partir de matérias tão diversas como os metais, os têxteis e as fibras. Xurxo Oro Claro intervém, grita o facto de não se conformar com a indiferença, algo que a obra que integra a coleção da FBAC já havia indiciado.
Como um conjunto muito alargado de autores galegos, Xurxo Oro Claro inscreve-se na história da Vila das Artes e da bienal mais antiga da Península Ibérica. Ajuda-nos a pensar, a questionar e a intervir, a continuar a utopia.
« texto de Helena Mendes Pereira