Jaime Azinheira (1944-2016) foi um dos homenageados da XIX Bienal Internacional de Arte de Cerveira (2017), com uma exposição sui generis comissariada por Elsa e Filipa César, esposa e filha do artista, respetivamente. Era escultor, pintor, desenhador, cenógrafo, professor universitário. Sobretudo Escultor. Natural de Peniche, havia de tornar-se, no Porto, também, Académico de excelência. Conclui o curso de escultura da Escola Superior de Belas Artes do Porto (atual FBAUP) em 1980, começando a expor regularmente a partir daí. Contudo, em meados da década de 1960 já havia sido bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Volta a sê-lo no início da década de 1980. A sua primeira exposição individual de escultura organizou-a a Cooperativa Árvore, em 1982, e intitulava-se “Serões – cinco histórias em três dimensões”. A mostra revelava um trabalho de enorme singularidade, com esculturas de grande formato, extremamente cenográficas e muito expressivas. Eram feitas de materiais frágeis, como o papel e o gesso e a técnica, original e única, tinha por base a moldagem.
O grotesco que retrata é também caricato, com referência a momentos do quotidiano e de enorme latência social e política. Jaime Azinheira esculpe a vida simples da alegria, o movimento mundanesco das tabernas, a vulgaridade dos beijos no jardim. A obra em destaque esta semana, “A Taberna” (1984), um gesso policromado com as generosas dimensões de 246x184x180cm, pertencente à coleção da Fundação Bienal de Arte de Cerveira, venceu o Prémio Ministério do Equipamento Social na IV BIAC, realizada de 4 de agosto a 2 de setembro de 1984, exe quo com a escultora Clara Menéres (n.1943). Contudo, Azinheira já havia participado na anterior edição, na III, em 1982, com a obra “Sueca” (1981) que se encontra em depósito na Fundação de Serralves e é propriedade do Ministério da Cultura. A Casa-Museu Teixeira Lopes, em Vila Nova de Gaia, detém outra célebre: “O Jornal”, de 1984. Esta foi, aliás, a série em destaque na homenagem de 2017, correspondendo a uma fase marcadamente expressionista da obra de Azinheira. A coleção do Centro de Arte Moderna (Fundação Calouste Gulbenkian) detém “O beijo”, obra também de 1982, ano importante na afirmação do seu percurso, como foi também o de 1986, com a série de obras intituladas Scarface, todas em papel com vinílica e pintura acrílica, apresentadas, em primeira mão, na Cooperativa Árvore.
Em 1984, o escultor abandona o ensino, dito preparatório, e passa a lecionar no superior e na sua, agora, Faculdade de Belas Artes do Porto, atividade que só viria a deixar em 2005. Diz, quem passou pela sua sala de aulas que era um pedagogo, altamente inspirador e dono de uma mão única para o desenho. A obra de Jaime Azinheira, que o eterniza entre nós, apesar do seu desaparecimento prematuro em janeiro de 2016, também a encontramos no espaço público, como é exemplo o Monumento ao Folclore Vianense, implantado no Largo da Estação, em Viana do Castelo, representando um casal de bailarinos envergando um traje local e envolvidos num passo de dança.
A teatralidade da sua obra leva-o, como seria de esperar e como sucedeu com outros do seu tempo, às colaborações com o teatro. Ao longo da sua carreira fez cenografias, figurinos e máscaras. Colaborou com os Comediantes do Porto, com o TEUC e com O Bando e, em 1988, ganha inclusive um prémio, instituído pela, então, Secretaria de Estado da Cultura, pela cenografia “Pássaro verde”.
Escreveu-nos Eça de Queirós que “a Arte é um resumo da Natureza feito pela imaginação”. Azinheira resume com Arte e mestria a natureza humana sensível e pitoresca, definível pelo seu sorriso simples de homem que foi sempre feliz.
Texto de Helena Mendes Pereira