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Ainda a Coleção e os seus artistas | Rui Ferro e Marta Lima: a cerâmica e o coletivo

Rui Ferro (AO); Marta Lima (PT) Trunfo, 1998 Escultura Ferro 140 x 150 cm Cerâmica 50 x 80 cm Obra realizada no Simpósio “Escultura Cerâmica”, realizado no Antigo Mercado do Peixe, em Vila Nova de Cerveira, realizada de 15 de julho a 15 de agosto de 1998

 

Rui Ferro (n.1971) e Marta Lima (n.1973) integram a coleção da Fundação Bienal de Arte de Cerveira (FBAC) com um trabalho coletivo desenvolvido no âmbito do Simpósio “Escultura Cerâmica” que decorreu no antigo Mercado do Peixe de Vila Nova de Cerveira, entre 15 de julho e 15 de agosto de 1998. Recorrendo, em termos técnicos, à pasta cerâmica e ao corte oxiacetileno de chapa de ferro, Trunfo (140X150cm) explora as possibilidades da terracota e é, do ponto de vista dos seus autores, uma proposta de reflexão sobre os momentos de partilha vividos, ao longo dos anos, na Vila das Artes, referenciando as personagens-chave dessas experiências em espaço circunscrito, simulando, pela sua organização concêntrica, um jogo de cartas. Damas, valetes e reis, em baixo relevo na terracota, representam os artistas, segurando vários objetos, que estiverem com Rui Ferro e Marta Lima no período em que decorreu este simpósio. O trabalho obedeceu a um processo fotográfico prévio que serve depois de base à criação do figuração. Trunfo está em exposição no Mosteiro da Batalha até 29 de setembro de 2019, no âmbito de “Volumes e interações na história” que integra uma vintena de obras da coleção da FBAC.

Sobre Rui Ferro e Marta Lima interessa referir que esta é apenas uma das obras que marcam o percurso artístico conjunto dos artistas, do qual podemos destacar, por exemplo, os painéis de azulejo que revestem a estação de metro do Lumiar, em Lisboa. O azulejo é, de resto, uma das práticas recorrentes destes dois artistas. Em 2016, Marta Lima protagonizou, inclusive, uma exposição na Fundação Altice em que o azulejo e o croché, dois referenciais dos ofícios tradicionais portugueses, que são contemporaneamente interpretados em trabalhos sobre tela e sobre madeira.

Marta Lima é natural do Porto e licenciada em Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), com uma pós-graduação em Design Urbano pelo Centro Português de Design e um mestrado em Design pela Universidade de Barcelona. Por sua vez, Rui Ferro, conclui a licenciatura em Artes Plásticas – Escultura em 1994, igualmente pela FBAUP; tem uma Pós-Graduação em Design Urbano Inclusivo pelo Centro Português de Design e  Universidade de Barcelona; é mestre em Design Urbano, pelo IL3 – Institut de Formació Contínua da Universidade de Barcelona e em 2015 fez a defesa pública da dissertação para obtenção de grau de Doutor, na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, com o tema “Moldes de uma Identidade, análise prática e conceptual de um processo criativo”, denunciando-se a cerâmica e os seus processos como prática privilegiada e comungada com Marta Lima. Rui Ferro mantém atividade docente na FBAUP, combinando a docência com uma prática artística, sobretudo, no campo da escultura.

Expõe, ambos, coletiva e individualmente, desde meados da década de 1990, deambulando as suas produções em territórios híbridos em que a fotografia e a performance têm espaço e presença, em linguagens que privilegiam a figuração e que se inscrevem num intervalo de combinação entre práticas tradicionais e ancestrais e a emergência das vanguardas e das metalinguagens e hibridações conceptuais. A sensibilidade e fragilidade da terracota contrastam, em Trunfo, com a robustez do ferro, fazendo da obra um testemunho da dinâmica cultural cerveirense, peculiarmente polvilhada com o convívio entre artistas e criadores que atribuem a este lugar, à beira Minho plantado, características únicas para a promoção da criação artística original.

 

« texto de Helena Mendes Pereira

« créditos fotográficos: Luís Rocha