Samuel Rama (n.1977) observa, como um arqueólogo, as entranhas da terra e recolhe, através do registo fotográfico ou da apropriação de elementos de literalidade matérica, monografias desse processo de escavação e de descoberta. Artista multidisciplinar, trabalha numa diversidade de suportes que o levam do desenho à expansão da pintura, passando pela fotografia, gravura, escultura ou instalações, relevando a poética e a plasticidade dos materiais e a volatilidade das expressões derivantes do exercício de pesquisa e contacto com as naturezas.
Atualmente com funções na direção do Instituto Politécnico de Leiria, na consequência do trabalho docente desenvolvido na Escola Superior Artística das Caldas da Rainha, Samuel Rama tem uma produção artística que apresenta, na análise temporal, um corpo de características comuns, que o fazem emergir num universo paralelo à perceção imediata do real, proveniente do território da inteligibilidade quotidiana. Visceral, orgânica e refinada, a obra de Samuel Rama tem ecos da arte informal e da arte povera, ao mesmo tempo que povoa o campo dos neoconceptualismos de riqueza disciplinar, sempre atento e dependente de uma relação ao espaço de apresentação e aos processos de pensamento sobre o Homem, inerentes à própria semântica arqueológica dominante.
Escavação #19, Escavação #12 e Escavação #25 são as três fotografias que integram a coleção da Fundação Bienal de Arte de Cerveira (FBAC), tendo vencido um dos Prémios Aquisição na XV Bienal Internacional de Arte de Cerveira, realizada de 25 de julho a 27 de setembro 2009. Temática e formalmente correspondem a uma resposta ao tal exercício de levantamento do detalhe do que nos rodeia, fazendo eco do olhar atento do artista. Atualmente, integram a exposição “Territórios Imaginados”, comissariada por Elisa Noronha, que a FBAC inaugurou em San Sperate (Sardenha, Itália).
Samuel Rama dispõe de uma formação artística vasta que terá começado em 2000 com a frequência do Curso de Gravura, promovido pelo Centro de Artes Caldas da Rainha e orientado por Bartolomeu Cid dos Santos, outro dos artistas representados na mostra em solo italiano. Muita desta formação passou pelas Caldas da Rainha e, mais recentemente, em 2013, concluiu o Doutoramento em Artes Visuais pela Universidade Politécnica de Valência (Espanha).
Com dezenas de exposições individuais e coletivas realizadas, o percurso de Samuel Rama conta ainda com vários prémios e presença de obras em importantes coleções em Portugal e no Brasil. É representado pela Galeria 111 e vive e trabalha entre Lisboa e as Caldas da Rainha. O universo da viagem e a metamorfose observada por quem tem a estrada como rotina, contribuirão para esta visão apurada, filosófica e tangencial do tempo e do espaço, que se exploram nas suas obras como miméticas da experiência humana. Adisciplinar, porque rico, complexo e de vanguarda, o trabalho de Samuel Rama é um oásis e uma hipótese de pensamento e reflexão no panorama artístico atual.
« texto de Helena Mendes Pereira