Deixemos de ver e aprendamos a olhar. Ponhamos em diálogo a nossa experiência com os possíveis significados da obra de arte. Porque não começamos por ser mais conscientes do nosso olhar? Porque não nos perguntamos sobre como olhamos?[1]
Francisco Tropa (n.1968) desenvolve o seu trabalho numa relação de simbiose com o espaço e criando ambientes que apelam à reflexão e a um processo de recolhimento interior do espectador, submerso na metalinguagem que o artista promove cruzando os campos da escultura, arquitetura, fotografia, vídeo, performance, desenho e/ou da instalação. De enorme subtileza e recorrendo a materiais diversos, desde os tradicionais às apropriações de objetos do quotidiano e à incorporação de materiais do território da arte povera, a produção de Francisco Tropa distancia-se dos lugares comuns e ocupa espaços e tempos de transição conceptual. Cada obra, conjuntos instalativos complexos e ritmados por uma ergonomia do desconforto, é um universo de possibilidades e de semânticas, num emaranhado de dicotomias e impressões comunicantes. Em 2011, Francisco Tropa foi Prémio Aquisição da XVI Bienal Internacional de Arte de Cerveira, realizada entre 16 de julho e 17 de setembro, com uma obra em que utiliza vidro, leite de magnésio, corda de linho e ramos de árvore e que, além da sua enorme delicadeza formal (desafiante para as áreas da conversação), exige de quem vê variações corpóreas, atenção aos feixes de luz e às significações de cada um dos seus elementos. A obra, exemplificativa das marcas identitárias do artista, integra uma amplitude de meios e de modus operandi, revelando-nos uma condensação de vanguardas e classicismos, virtuosos, e que exigem densidade intelectual para a sua leitura. Atualmente, é uma das obras da exposição “Territórios Imaginados”, comissariada por Elisa Noronha, que a Fundação Bienal de Arte de Cerveira (FBAC) inaugurou em San Sperate (Sardenha, Itália).
Francisco Tropa Iniciou a sua formação artística no Ar.Co (Centro de Arte e Comunicação Visual, em Lisboa), tendo depois frequentado o Royal College of Art, em Londres (1992), completando o seu percurso formativo como bolseiro da Fundacção Alfred Topfel na Kunstakademie, Münster, Alemanha (1995-1996). Começou a expor na década de 1980 mas é na década seguinte que a sua obra adquire projeção nacional e internacional. Expõe, regularmente, em Portugal e além fronteiras e a sua obra integra relevantes coleções nacionais e internacionais. No plano das exposições poderíamos destacar as realizadas no Museu de Serralves (1998, 2006 e 2010), no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian (2003) e na Culturgest (2006). Participou nas exposições internacionais da Bienal de São Paulo, de 1999, e da Bienal de Veneza em 2003, tendo sido em 2011 o representante do pavilhão de Portugal. Em 1997 foi-lhe atribuído o Amstelveen Art Prize, Amsterdão e o Prémio de Desenho da Bienal das Caldas da Rainha em 1998 e, como se disse, em 2011, é um dos Prémios Aquisição da XVI BIAC, passando a integrar também a coleção da Fundação Bienal de Arte de Cerveira.
Francisco Tropa é unanimemente considerado pela crítica como um dos mais relevantes e peculiares artistas da sua geração, marcando o território artístico com uma simbiose de meios que definem um universo transitório, interativo e emocionalmente expansivo.
[1] LÓPEZ, Natalia Poncela – Nem tudo é arte? Santiago de Compostela, Através Editora, 2008. Página 67.
« Texto de Helena Mendes Pereira